A maioria das empresas que desfrutam de benefícios fiscais está reconsiderando suas estratégias em resposta às iminentes mudanças impostas pela reforma tributária. No entanto, apenas 46% das empresas brasileiras realizaram estudos para compreender o impacto dessas mudanças em seus negócios, segundo revela a pesquisa “Tax do Amanhã”, conduzida pela Deloitte com 172 empresas de seis setores distintos e divulgada exclusivamente pelo Valor.
Dessas companhias que anteciparam análises, 61% estão considerando mudanças significativas, como alterar suas localizações ou as cadeias de suprimentos, para manter a competitividade frente ao possível aumento da carga tributária e a consequente elevação dos custos para o consumidor final.
O estudo também aponta que uma considerável maioria das empresas (64%) planeja manter seu modelo operacional atual, apostando que a reforma tributária irá simplificar a tributação (78%), aumentar a transparência sobre os encargos tributários (59%) e diminuir o número de obrigações acessórias (53%).
As principais preocupações das empresas durante a fase de transição incluem o aumento de custos não antecipados (41%), incertezas legais (39%), perda de incentivos fiscais (37%), créditos tributários (30%) e a possibilidade de dupla tributação (29%).
Embora ainda seja necessário regulamentar muitos aspectos, os especialistas afirmam que já é possível prever vários cenários e preparar estratégias adequadas, especialmente considerando o fim de muitos incentivos fiscais previsto para 2032, ao término do período de transição.
Uma região que voltou a ser considerada estratégica é a Zona Franca de Manaus, que atualmente é isenta de IPI, tributo que será substituído pela nova Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). A legislação aprovada garantiu benefícios fiscais que mantêm a competitividade da região.
Os especialistas recomendam não postergar a preparação para as mudanças. Embora ainda não seja o momento de implementar planos, é crucial definir gatilhos de ação para quando as condições forem adequadas. A compreensão da posição da empresa na cadeia produtiva é fundamental para adaptar-se à nova estrutura tributária, que incidirá principalmente sobre bens de maior valor agregado.
A pesquisa destacou que, apesar de algumas empresas estarem na expectativa da promulgação de duas leis complementares, adotar uma postura passiva não é aconselhável. Especialmente considerando que metade das empresas participantes do estudo possui um faturamento superior a R$ 500 milhões.
Finalmente, a pesquisa também apontou que, enquanto as empresas lutam para compreender a nova legislação tributária (40% indicaram dificuldades), encontrar profissionais qualificados (63%) se mostra um desafio ainda maior. Embora o uso de tecnologia ainda seja limitado, com apenas 12% das empresas utilizando inteligência artificial, há uma tendência clara de investimento prioritário em tecnologias voltadas para a área fiscal e tributária (46%), mais do que em qualquer outra categoria.
A reforma tributária visa extinguir cinco impostos — PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS — para criar o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), principal fonte de arrecadação para estados e municípios, e a CBS para a União, além de um Imposto Seletivo sobre produtos e serviços considerados nocivos à saúde e ao meio ambiente. A meta do governo é que as leis complementares sejam aprovadas até o final do ano.